quinta-feira, novembro 12

# vertiginoso bolaño


Comecei a ler o colossal 2666. Nunca tive nas maos um livro tao volumoso.. sao mais de 1000 páginas. Delicio-me sempre que o abro e entro num mundo que sem dúvida é vertiginoso (a classificaçao nao é minha... é da revista LER... mas está tao bem conseguida que seria uma pena nao a aproveitar). Vou na primeira parte: a parte dos críticos. Quatro críticos literários - Morini, Espinoza, Pelletier e Norton - sao obcecados por um escritor a quem dedicaram a sua vida profissional misturada com a pessoal como qualquer pessoa se obceciona com o que lhe tocou na vida obcecionar-se. Estes personagens de quem falo foram ao México procurar a sua obcessao, ainda nao sei se a encontram... suponho que nao... nunca se encontra nada do que se vai à procura.

Deixo um excerto:

“Como se a coincidência fosse um luxo? – perguntou Morini
(...)
- A coincidência nao é um luxo, é a outra face do destino e também algo mais – disse Johns.
- Mais o quê? – perguntou Morini
- Algo que escapava ao meu amigo por uma razao muito simples e compreensível. O meu amigo (...) acreditava na Humanidade, portanto, acreditava na ordem (...). Acreditava na redençao. No fundo até é possível que acreditasse no progresso. A coincidência , pelo contrário, é a liberdade total a que estamos condenados pela nossa própria natureza. A coincidência nao obedece a leis e se lhes obedece nós desconhecemo-las. A coincidência, se me permite a comparaçao, é como Deus que se manifesta em cada segundo no nosso planeta. Um Deus incompreensível com gestos incompreensíveis dirigidos às suas criaturas incompreensíveis. Nesse furacao, nessa implosao óssea, realiza-se a comunhao. A comunhao da coincidência com os seus rastos e a comunhao dos seus rastos connosco.”

Roberto Bolaño

Com cerca de 900 páginas pela frente creio que ainda vou deixar mais alguns posts sobre este livro.

P.S: Tenho um pc novo que veio com o teclado em espanhol. Nao tenho tiles e peço desculpa aos mais sensíveis aos assassinatos da boa língua portuguesa. Mas ao menos em espanhol posso escrever correcto, tenho os tiles por cima dos n’s.

domingo, setembro 20

#insustentável


Do que li este verão entre as manhãs e os finais de tarde dos longos dias passados na praia ficou-me marcada a reflexão sobre a leveza e o peso das coisas da vida oferecida pelas palavras de Milan Kundera em “A Insustentável Leveza do Ser”. A problemática profunda da nossa existência, para mim, está tão bem resumida neste conceito: a parte fácil é pesada, com o seu peso segue um caminho estreito e bem definido, sem paragens, sem dúvidas, sem questões; a parte difícil está em tudo o que é leve, o que nos faz tirar os pés do chão, o que voa e o que nos oferece cruzamentos de caminhos. A leveza torna-se insustentável para quem a busca incessantemente. A realidade é pesada. O sonho é leve. A realidade é compromisso. O sonho é liberdade. E o maior peso que se pode sentir é sem dúvida o da insustentável leveza.

"Tomás repete para si mesmo o provérbio alemão: einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver mais do que uma vida é como não viver nunca."

Milan Kundera

sexta-feira, julho 17

#quase tudo


"Se expurgarmos a vida de todos os preconceitos, convenções e valores sociais, de toda a disciplina, decência, patriotismo, crença no progresso, sentido do dever, respeito pelas instituições e pelos outros, todo o pudor, toda a vergonha, se expurgarmos a vida de tudo isto, o que resta?"

quase tudo

sobre “O Trópico de Câncer”
Henry Miller

domingo, julho 12

A Cala da Russa


No outro dia, estava a aconselhar um livro a um amigo que não queria nada de coisas de “gente tola”… e saiu-me uma descrição de um livro que li no verão passado e que gostei imenso e que não é assim de loucos, digamos que é bastante acessível, perfeito para ir lendo depois de uns belos mergulhos no mar:

MENTIRA – ENRIQUE DE HÉRIZ (2004)
Em Portugal editado por Dom Quixote

O escritor é catalão e a história (ou estória como se escreve agora!!) passasse entre uma praia da Costa Brava (a Cala da Russa) e um sítio perdido algures na Guatemala. É sobre mentiras, de como se desenrolam ao longo da vida e de como se perde o controlo das suas consequências.
Resumidamente, e a parte que mais gostei, é que a personagem principal é antropóloga e estuda os rituais da morte em diversas raças humanas e por uma confusão da vida é dada como morta na Guatemala e aproveita para viver a sua própria morte.
Esta é só uma das grandes mentiras... ao longo do livro existem muitas. Umas mentiras são mesmo reais e vão influenciando as vidas dos personagens, outras são somente fictícias (mentiras só de uma pessoa para consigo mesma). E no final... acho que a conclusão é que a junção te todas as mentiras e as relações humanas que se criam em redor delas são a Verdade :))

bem... concluindo... é um livro sobre a vida, com um toque assim de Catalunha…

PS: queria que as fotos do blog fossem todas a preto e branco mas tinha que mostrar a cor da água das praias da Costa Brava…

sábado, julho 4

Desassossegos #2


"Não o amor, mas os arredores é que vale a pena…

A repressão do amor ilumina os fenómenos dele com muito mais clareza que a mesma experiência. Há virgindades de grande entendimento. Agir compensa mas confunde. Possuir é ser possuído, e portanto perder-se. Só a ideia atinge, sem se estragar, o conhecimento da realidade."

Fernando Pessoa

sábado, junho 27

Cadelas negras #2


"- El absurdo es que no parezca un absurdo – dijo sibilinamente Oliveira -. El absurdo es que salgas por la mañana a la puerta y encuentres la botella de leche en el umbral y te quedes tan tranquilo porque ayer te pasó lo mismo y manana te volverá a pasar. Es ese estancamiento, ese así sea, esa sospechosa carencia de excepciones. Yo no sé, che, habría que intentar otro camino."

Julio Cortázar
em Rayuela

quarta-feira, junho 24

Verão, sejas bem vindo !!


Letra de "Beach party" para inspirar este verão 2009:

Don't want all this cold cold shit
throw off your shirt and let's get
hot hot hot
we've never been, we've never been to the bridge, throw off your skirt and let's begin the rock

i've been to all the places on the block
(you can believe it, believe it or not) i like to rock , rock! i like to rock, rock!

jump right in and in too deep
throw off your towel and let's get wet wet wet
bermuda shorts are comin back to town throw off your pants and let's begin the dance

i've been to i've been to all the beaches on the strip and you better believe this shit

i like to dip, dip (x2)

don't want all this cold cold cold shit throw off your shit and let's get hot hot hot,
we've never been, we've never to the bridge...throw off your skirt and let's begin the rock ....

oh yeh i'm over here, oh yeh you're over there ...
we could get over here...
..then we begin to share

hot love on a platter, let me be your dancer, hot love on a platter, let me be your dancer

Hot Chip

terça-feira, junho 16

Cadelas negras #1


"Pero el amor, esa palabra... Moralista Horacio, temeroso de pasiones sin una razón de aguas hondas, desconcertado y arisco en la ciudad donde el amor se llama con todos los nombres de todas las calles, de todas las casas, de todos los pisos, de todas las habitaciones, de todas las camas, de todos los sueños, de todos los olvidos o los recuerdos. Amor mío, no te quiero por vos ni por mí ni por los dos juntos, no te quiero porque la sangre me llame a quererte, te quiero porque no sos mía, porque estás del otro lado, ahí donde me invitás a saltar y no puedo dar el salto, porque en lo más profundo de la posesión no estás en mí, no te alcanzo, no paso de tu cuerpo, de tu risa, hay horas en que me atormenta que me ames (cómo te gusta usar el verbo amar, con qué cursilería lo vas dejando caer sobre los platos y las sábanas y los autobuses), me atormenta tu amor que no me sirve de puente porque un puente no se sostiene de un solo lado (…)
¿Por qué stop? Por miedo de empezar las fabricaciones, son tan fáciles. Sacás una idea de ahí, un sentimiento del otro estante, los atás con ayuda de palabras, perras negras, y resulta que te quiero. Total parcial: te quiero. Total general: te amo.(…)

La eligen, te lo juro, los he visto. Como si se pudiese elegir en el amor, como si no fuera un rayo que te parte los huesos y te deja estaqueado en la mitad del patio. Vos dirás que la eligen porque-la-aman, yo creo que es al verse. A Beatriz no se la elige, a Julieta no se la elige. Vos no elegís la lluvia que te va a calar hasta los huesos cuando salís de un concierto. Pero estoy solo en mi pieza, caigo en artilugios de escriba, las perras negras se vengan cómo pueden, me mordisquean desde abajo de la mesa. ¿Se dice abajo o debajo? Lo mismo te muerden. ¿Por qué, por qué, pourquoi, why, warum, perchè este horror a las perras negras?
Tengo miedo de ese proxenetismo, de tinta y de voces, mar de lenguas lamiendo el culo del mundo. Miel y leche hay debajo de tu lengua... .Concebir una raza que se expresara por el dibujo, la danza, el macramé o una mímica abstracta. ¿Evitarían las connotaciones, raíz del engaño? Honneur des hommes, etc. Sí, pero un honor que se deshonra a cada frase, como un burdel de vírgenes si la cosa fuera posible."

Julio Cortázar

domingo, junho 14

Desassossegos #1


"Somos quem não somos, e a vida é pronta e triste. O som das ondas à noite é um som da noite; e quantos o ouviram na própria alma, como a esperança constante que se desfaz no escuro com um som surdo de espuma funda! Que lágrimas choraram os que obtiveram, que lágrimas perderam os que conseguiram! E tudo isto, no passeio à beira-mar, se me tornou o segredo da noite e da confidência do abismo. Quantos somos! Quanto nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amámos e perdemos e, depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o que julgávamos que pensávamos quanto sentíamos; o que era uma memória e criámos que era uma emoção; e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à beira mar.
Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo? Quantas coisas a música sugere e nos sabe bem que não possam ser! Quantas a noite recorda e choramos e não foram nunca! Como uma voz solta da paz deitada ao comprido, a enrolação da onda estoira e esfria e há um salivar audível pela praia invisível fora.
Quanto morro se sinto por tudo! Quanto sinto se assim vagueio, incorpóreo e humano, com o coração parado como uma praia, e todo o mar de tudo, na noite em que vivemos, batendo alto, chasco, e esfria-se, no meu eterno passeio nocturno à beira mar!"

Fernando Pessoa

sábado, junho 13

Um dia, algures, escrito nas paredes de uma livraria


"What we all hope in reaching for a book, is to meet a man of our own heart, to experience tragedies and delights which we ourselves lack the courage to invite, to dream dreams which will render life more hallucinating, perhaps also to discover a philosophy of live which will make us more adequate in meeting the trials and or deals which beset us.
To merely add to our store of knowledge or improve our culture, whatever that may mean, seems worthless to me"

Henry Miller